Nunca tivemos acesso a tanto conhecimento. Cursos, certificações, especializações e habilidades técnicas se multiplicam em velocidade acelerada. Ainda assim, algo continua falhando dentro das organizações, e não está relacionado à falta de competência técnica. Está relacionado à forma como as pessoas se comportam, se comunicam e se relacionam.
É nesse ponto que surge a lacuna comportamental: o espaço invisível entre o que o profissional sabe fazer e a maneira como ele convive, colabora e constrói relações no ambiente de trabalho.
Não adianta dominar processos, ferramentas e estratégias se o comportamento fragiliza as relações. Quando a comunicação é truncada, o respeito é negligenciado, o ego se sobrepõe ao coletivo e a escuta deixa de existir, o conhecimento perde força. O desempenho até pode aparecer no curto prazo, mas dificilmente se sustenta.
Dados recentes reforçam essa realidade. Um estudo realizado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) apontou que cerca de metade das demissões ocorridas em 2024 tiveram como principal motivo questões comportamentais, e não falhas técnicas. A pesquisa evidencia um alerta importante: profissionais estão sendo desligados não porque não sabem executar, mas porque não conseguem conviver.
Dificuldade de trabalhar em equipe, resistência a feedbacks, conflitos constantes, baixa inteligência emocional, falta de responsabilidade relacional e comportamentos tóxicos têm pesado mais do que lacunas técnicas. Afinal, habilidades podem ser ensinadas. Postura, maturidade emocional e ética relacional exigem consciência e disposição para mudança.
Essa lacuna também se manifesta no dia a dia das equipes. Estudos sobre gestão de pessoas mostram que comportamentos inadequados corroem relações de trabalho, minam a confiança e comprometem o clima organizacional. Não por acaso, pesquisas apontam que uma parcela significativa dos profissionais considera seus colegas de trabalho difíceis ou emocionalmente desgastantes, um sinal claro de que o problema não está apenas na execução, mas na convivência.
Quando relações são frágeis, o impacto é coletivo. A produtividade cai, o engajamento diminui, a criatividade se retrai e o ambiente se torna defensivo. Líderes tecnicamente excelentes podem fracassar por não saberem escutar. Talentos promissores podem se perder por não conseguirem lidar com diferenças, frustrações ou limites. Equipes competentes podem adoecer por falta de diálogo e segurança psicológica.
Fechar a lacuna comportamental exige um movimento consciente das organizações e das pessoas. Exige investir em desenvolvimento humano, fortalecer a cultura organizacional, preparar lideranças e criar espaços de diálogo real. Exige compreender que comunicação, empatia, responsabilidade emocional, ética e colaboração não são habilidades complementares, são competências centrais para a sustentabilidade dos negócios.
O trabalho não é apenas um espaço de entrega. É, antes de tudo, um espaço de convivência. E nenhuma entrega se sustenta quando as relações estão deficientes.
Talvez o grande desafio do mercado hoje não seja formar profissionais mais qualificados tecnicamente, mas pessoas mais conscientes do impacto que seus comportamentos geram todos os dias. Porque conhecimento abre portas, mas é o comportamento que define se elas permanecem abertas.
Fonte: CBN, Agência Brasil, Oportunidades.gov, Revista PEGN, Forbes